Adiamento
Depois de amanhã, sim, só depois de amanhã…Levarei amanhã a pensar em depois de amanhã,
E assim será possível; mas hoje não…
Não, hoje nada; hoje não posso.
A persistência confusa da minha subjectividade objectiva,
O sono da minha vida real, intercalado,
O cansaço antecipado e infinito,
Um cansaço de mundos para apanhar um eléctrico…
Esta espécie de alma…
Só depois de amanhã…
Hoje quero preparar-me,
Quero preparar-me para pensar amanhã no dia seguinte…
Ele é que é decisivo.
Tenho já o plano traçado; mas não, hoje não traço planos…
Amanhã é o dia dos planos.
Amanhã sentar-me-ei à secretária para conquistar o mundo;
Mas só conquistarei o mundo depois de amanhã…
Tenho vontade de chorar,
Tenho vontade de chorar muito de repente, de dentro…
Não, não queiram saber mais nada, é segredo, não digo.
Só depois de amanhã…
Quando era criança o circo de domingo divertia-me toda a semana.
Hoje só me diverte o circo de domingo de toda a semana da
[minha infância…
Depois de amanhã serei outro,
A minha vida triunfar-se-á,
Todas as minhas qualidades reais de inteligente, lido e prático
Serão convocadas por um edital…
Mas por um edital de amanhã…
Hoje quero dormir, redigirei amanhã…
Por hoje qual é o espectáculo que me repetiria a infância?
Mesmo para eu comprar os bilhetes amanhã,
Que depois de amanhã é que está bem o espectáculo…
Antes, não…
Depois de amanhã terei a pose pública que amanhã estudarei.
Depois de amanhã serei finalmente o que hoje não posso nunca ser,
Só depois de amanhã…
Tenho sono como o frio de um cão vadio,
Tenho muito sono.
Amanhã te direi as palavras, ou depois de amanhã…
Sim, talvez só depois de amanhã…
O porvir…
Sim, o porvir…
Álvaro de Campos
2 Mais Comentários:
O porvir não está escrito; talvez por isso cansa tanto pro-jectar o futuro.
Mas há sempre coisas práticas, e presentes, em que nos podemos ocupar (em vez de pre-ocupar). Por exemplo
15 de Maio é o Dia Internacional da Família, por decisão da Assembleia Geral das Nações Unidas. O comunicado da ONU sobre este evento propõe que “O objectivo global da política de família é
promover, proteger e suportar a integridade e a funcionalidade das famílias.”
O actual governo acaba de extinguir o único orgão governamental que trabalhava nesta área (A Comissão Nacional da Família)e despedir a Coordenadora Nacional para os Assuntos da Família.
Em 25 anos a Família foi tendo
uma direcção-geral,
uma secretaria de estado,
um alto-comissariado,
uma comissária,
uma coordenadora para a família. Agora... está sem ninguém.
Querer ser família actualmente é como ser "o menino das estrelas do mar". Num Estado ferozmente anti-natalista como o português, que penaliza os casais com filhos, bem precisamos de muitos "meninos do mar" (e meninas) para conseguir manter a estrelas.
"Cantarei até que a voz me doa"!
Um abraço
Como ninguém diz nada, transcrevo algumas notícias que fui recebendo:
«"Vaticano pede abertura, sinceridade e respeito em diálogo com budistas"
"VATICANO, 16 Mai. 05 (ACI) .- A Santa Sé fez votos para que o diálogo entre católicos e budistas esteja marcado pela abertura, sinceridade e respeito, na mensagem anual do Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-religioso, presidido pelo Dom. Michael Fitzgerald, aos budistas com motivo da festa de Vesakh 2005. O Vesakh é uma festa móvel que comemora acontecimentos decisivos na vida de Gautama Buda.
O Arcebispo recordou que este ano se celebra o 40º aniversário da declaração "Nostra aetate" do Concílio Vaticano II sobre as relações da Igreja Católica e as outras religiões, onde se afirma que "a Igreja Católica não rejeita nada do que nestas religiões é verdadeiro e santo. Assim, os budistas e os católicos se puderam encontrar, em um espírito de abertura, sinceridade e respeito recíproco, comprometendo-se de diversas maneiras no diálogo".
Onde cristãos e budistas vivem e trabalham juntos, diz a mensagem, "o diálogo de vida lhes consente, enquanto dão testemunho da religião a que pertencem, aprofundar no conhecimento mútuo, fomentar a boa vontade e promover um espírito de vizinhança. Criou-se assim um laço particular entre um determinado número de monges e monjas budistas e católicos".
O Arcebispo Fitzgerald destaca que "em nenhum lugar como nos países do sul e do sudeste asiático, que em 26 de dezembro de 2004 foram vítimas do terremoto e depois do tsunami, adverte-se a necessidade de colaborar com tanta força. Os longos tempos necessários para a reconstrução requerem também que prossiga esta solidariedade inter-religiosa, assim com em tantas situações é necessário a cooperação entre todas as pessoas de boa vontade".»
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