Baile de finalistas
Hoje estou mal disposto, stressado... Os meus colegas querem que eu vá ao baile de finalistas e eu não quero ir.Estou indeciso, o facto de estarem sempre a “baterem no ceguinho” faz-me pensar mais uma vez e mais uma vez... Por um lado é completamente contra os meus princípios ir a um baile de finalistas na Póvoa de Varzim e que custa €40. Então estão sempre a dizer que as escolas privilegiam as elites, e que a educação é para todos e que os alunos deviam ser todos iguais e que há professores que gostam mais dos bons alunos, etc... Mas depois faz-se um baile na Póvoa (que fica aqui tão perto e Guimarães nem sequer tem restaurantes, não é verdade?) e que custa a módica quantia de €40 (como é possível alguém não ter €40 para gastar num jantar?). Além disso detesto jantares de javardice, mas está se mesmo a ver, que com a quantidade de comida e principalmente com a quantidade de bebida que vai haver, o que é que vai acontecer. E claro, toda a gente sabe como eu adoro as discotecas (aqueles sítios fantásticos onde se dança, se bebe e onde não dá para dizer nada à pessoa que está mesmo ao nosso lado), são mesmo o meu estilo! Por isso este baile ultrapassa todos os limites dos meus valores. E é por isso que não vou.
Mas tenho pena. Por outro lado gosto muito das pessoas da minha turma. É tão fixe irmos almoçar, jantar, passear todos juntos. Se fosse uma coisa só para a minha turma acho que até ia. Primeiro porque conheço bem as pessoas. Segundo porque sei que toda a gente teria possibilidades de pagar os €40 do jantar. Terceiro, porque sei que não ia ser a javardice que vai ser.
E se eu fosse? Ia comer com a minha turma, ignorava o resto do pessoal e até ia gostar. Mas depois o que é que eu ia fazer quando fossemos para a discoteca? Não ia passar uma seca tremenda à espera que desse o sono ao pessoal para irmos embora. Não ia de certeza embebedar me para aguentar aquelas horas todas na discoteca (quanto a isso continuo a fazer questão de não tocar numa ponta de álcool e tenho as minhas razões!). Também não tinha lata de me ir embora depois de jantar. Claro que podia ir sozinho para casa (felizmente tenho casa na Póvoa) e ler um livro ou ouvir música ou dormir. Ou dar uma volta, comer uma francezinha com um sumo de laranja natural no guarda-sol. Não em importava nada, mas os meus colegas iam achar que eu estava doido e iam internar me no Júlio de Matos e levar a mal, como já estão a levar o facto de eu não ir ao baile.
Afinal o que é que tem o baile de especial? Não era exactamente a mesma coisa, ou até melhor na minha perspectiva, ir a turma toda comer fora. Afinal que é que tem de diferente este baile de uma festa de anos ou de um jantar de turma? Não consigo ver... Parece-me tudo igual, o baile pior porque vai gente da escola toda, ou melhor, só vão os que se acham chiques e que acham que fica bem no seu estatuto social irem ao baile de finalistas. Mas finalistas de quê? Por acaso vão ficar só com o 12º ano? Ai... Estou farto destes queques lá da escola (o que me vale é que a minha turma neste aspecto é bem fixe)! Não estão já fartos de festas? Não estão já fartos de mostrar que têm dinheiro? Onde é que vão chegar com isso? A lado nenhum. São sempre uns infelizes, uns stressados por mais festas que façam! Mas porque é que o pessoal da minha turma colabora com isto? E porque é que eu ainda estou indeciso se devo colaborar nesta palhaçada? E porque é que os meus pais me deixam ir? Senão o problema estava resolvido. Infelizmente cada vez menos vou ter esta desculpa dos meus pais não me deixarem... Até dava jeito nestas alturas.
Enfim, o prazo para inscrição para o baile acabava hoje. Mas tenho quase a certeza que se eu fosse lá na segunda eles me deixavam. O que é pior, colaborar neste atentado aos direitos humanos que é este baile ou ficar com os meus colegas chateados a pensar que eu sou um... sei lá o quê? Porque ainda por cima eles não compreendem as razões de eu não ir. Ficam chateados comigo por eu não ir, como se eu não fosse só porque não gosto deles ou assim... É um problema. Enfim, já não é a primeira vez. E não deve ser a última. É um problema ser diferente das outras pessoas e gostar de ser diferente. Se eles são meus amigos continuam a gostar de mim, mas é chato que não compreendam que eles não têm nada a ver com o facto de eu não ir. É por isso que eu até queria ir.
Quando estou nestas situações de grandes indecisões costumo pensar nas vantagens e desvantagens. Neste caso acho que ganha eu não ir ao baile. Outra coisa que eu costumo pensar é o que é bem, ou seja, se eu quisesse dar o exemplo o que é que faria? E neste caso também não tenho qualquer dúvida de que não iria ao baile.
Aliás, acho que qualquer pessoa, depois de pensar bem, não vai ao baile. Para quê gastar aquele dinheiro e ir para tão longe com uma cambada de gente que nem se conhece, quando por metade do preço se fazia uma festança aqui e só com o pessoal amigo? Ou até se ia a algum lado mais especial... Se calhar o problema das pessoas é mesmo este, não pensam. Não usam aquela faculdade mais maravilhosa e fabulosa que é a de pensar. Usar os miolos! O melhor é sempre o que é melhor para o Mundo, para a Humanidade e para a própria pessoa. E se pensarmos bem chegamos lá muitas vezes, só que temos preguiça de pensar...
