Quotas e selecções...
Ultimamente muito se tem falado acerca do estabelecimento de quotas em Medicina, porque (dizem algumas pessoas) o facto de haver muitas médicas irá trazer muitos inconvenientes. Mas porque é que agora se lembraram da Medicina? E os professores, cuja esmagadora maioria são do sexo feminino? Existem assim tantos problemas por causa disso? Não me parece, pelo menos não se tem falado nisso. E as engenharias que são ocupadas maioritariamente pelo sexo masculino? Não se deveriam, também, estabelecer quotas para uma maior igualdade entre os sexos?Estabelecer quotas nos cursos de Medicina seria tornar o acesso a estes cursos ainda mais injusto. Actualmente, devido às diferenças de exigência entre escolas e professores, torna-se quase uma questão de sorte (ou de dinheiro no caso daqueles colégios...) ter uma média suficientemente alta para entrar em Medicina. Com as quotas, além disto, teríamos raparigas que embora tivessem grandes notas ficariam de fora, apenas por serem raparigas, e veriam rapazes com médias mais baixas a entrar nos cursos.
António Ramos, numa carta escrita ontem ao Público, diz que os candidatos a medicina deveriam ser seleccionados privilegiando "os humanitários, os altruístas, os abnegados". E não deveria ser assim para todas as profissões? Quem é que gosta de ser atendido por um funcionário rabugento na repartição de finanças, quem é que gosta de um empregado de mesa mal disposto?
Mas como é que se faz a selecção? Não se pode fazer um inquérito aos candidatos a perguntar se eles querem ir para o curso porque gostam da profissão ou se é porque acham que vão ganhar muito dinheiro. Aliás, estas selecções seriam muito convenientes no caso das quotas. Sem levantar polémicas, pedia-se ao júri que tentasse seleccionar mais candidatos do sexo masculino. E claro, também seria bom para os amigos do júri.
Na mesma carta, António Ramos dá a entender que os alunos que tiram médias entre 18 e 20 valores são indivíduos ambiciosos, sem escrúpulos e arrogantes. Provavelmente nunca foi a uma escola, senão veria que essas pessoas existem independentemente da média que têm e da profissão a que aspiram.
Finalmente, uma última palavra para dizer que sou contra as greves, não só dos médicos mas de todas as profissões. Hoje em dia, é urgente pensar em novas formas de luta que não prejudiquem o cidadão comum, que no fim é quem paga sempre.
0 Mais Comentários:
Enviar um comentário
<< Home